
A situação do País, o Governo PS e a crise.
O Comité Central do PCP destaca a extensão, profundidade e duração da crise em que o País se encontra, marcada por uma situação de recessão económica com uma queda acentuada do produto nacional, encerramento de milhares de empresas, paragens na produção, avanço galopante do desemprego, salários em atraso, agravamento da precariedade e quebras nos salários e remunerações dos trabalhadores.Confirmando as previsões macro-económicas para 2009 – quedas do PIB em 1,6%, das exportações em 3,8%, do investimento em 5,5%, do consumo privado em 0,2%, a par de um aumento do desemprego para 8,8% (em sentido restrito), valores adiantados pela Comissão Europeia – e perspectivando-se o agravamento de alguns destes indicadores para 2010, o país enfrenta uma das mais graves situações no plano económico e social desde o 25 de Abril.Uma crise cuja real dimensão e impacto, ainda longe de serem completamente avaliados, coloca em evidência o fracasso de uma política vinculada à defesa dos interesses dos grandes grupos económicos e do capital financeiro, e incapaz de responder à dramática situação económica e social em que o país se encontra.
O Comité Central do PCP assinala a responsabilidade da política de direita pela dimensão da crise económica e social e pelas extremas dificuldades e fragilidades do tecido económico nacional para fazer face a actual situação. Sem subestimar a expressão e consequências da crise, o PCP denuncia a mistificação em que o Governo PS insiste para iludir as suas responsabilidades sobre a gravidade da situação nacional a que a sua política conduziu.Tal como o PCP denunciou, antes dos impactos do agravamento da crise do capitalismo atingirem o País, já os principais problemas e défices se faziam sentir. Os elevados e dramáticos indicadores do desemprego, da precariedade, da pobreza, das desigualdades sociais e regionais, do endividamento das famílias e empresas não financeiras, e do País, bem como os persistentes défices energético, científico e tecnológico, de produção material e produtividade são o resultado da política de direita que se desenvolve desde 1976 e que o Governo PS/Sócrates elevou a um novo patamar. Como se confirmou, particularmente a partir da adesão de Portugal à CEE em 1986, a política de direita liquidou instrumentos e meios de política económica e social, amarrou a gestão do Estado aos espartilhos da moeda única e das imposições comunitárias, desperdiçou recursos e potencialidades e cedeu elementos da soberania nacional que hoje seriam essenciais para enfrentar e superar a crise.
O Comité Central do PCP chama a atenção para o fracasso daquele que foi proclamado como o objectivo principal da política económica do governo PS – a limitação do défice das contas públicas a 3% do PIB –, objectivo em nome do qual foram impostos pesados sacrifícios, com acentuados cortes na despesa pública, encerramento de serviços públicos, limitações nos salários e remunerações, e que agora é abandonado, como testemunha o défice público, a atingir os 4,6%, e a dívida pública, a subir aos 68,2%.3. Depois de meses a negar a realidade da crise e de um Orçamento do Estado para 2009 fantasista e incapaz de responder aos problemas, o governo apresenta agora um Orçamento Suplementar suportado em indicadores macro-económicos que se revelam, mais uma vez, fictícios e desactualizados.Como a realidade confirma, o governo PS não está a responder à grave situação do país. O chamado plano «anti-crise» serve, sobretudo, para ocultar que as reais medidas tomadas pelo governo se destinaram, essencialmente, a apoiar o capital financeiro, como pode ser comprovado pelos 20 mil milhões de euros de garantias do Estado atribuídas à Banca, a injecção de mais de 4 mil milhões de euros, a nacionalização dos prejuízos do Banco Português de Negócios ou a intervenção no Banco Privado Português através da Caixa Geral de Depósitos. O Comité Central denuncia o compromisso profundo do governo PS ao grande capital (por mais teses que o primeiro-ministro escreva ou promessas que produza), compromisso esse que entra em confronto com os interesses e direitos dos trabalhadores, dos pequenos empresários, dos agricultores, dos pescadores, dos sectores produtivos, e que, por isso, se revela incapaz de conduzir uma política que dê resposta aos problemas do país.
O Comité Central do PCP chama a atenção que a crise que atinge o país não é para todos. Só nove dos principais grupos económicos e financeiros alcançaram durante os primeiros nove meses de 2008 cerca de 4 mil milhões de euros de lucros. O grande capital não só mantém intocáveis os seus inúmeros privilégios – amplos benefícios fiscais, apoios directos e indirectos de dinheiros públicos, favorecimentos na concentração e acumulação capitalista, desregulamentação da legislação laboral, etc. – como encontra espaço e disponibilidade para reclamar junto do Governo novos apoios e benesses.As medidas do Governo de «combate à crise» não têm qualquer credibilidade quando em simultâneo: insiste na perda de direitos dos trabalhadores e na degradação das relações laborais com o Código de Trabalho e a legislação laboral para a administração pública; promove o desemprego no próprio Estado – como se verifica com a mobilidade especial na administração pública; prossegue a privatização da saúde, da educação e de importantes empresas nacionais (TAP, ANA, etc.); desaproveita os fundos comunitários e dá apoio a políticas da União Europeia de destruição do aparelho produtivo nacional, da agricultura e das pescas; não adopta medidas para reduzir os preços de bens e serviços essenciais, como a energia e transportes; ignora o mercado nacional; recusa a melhoria dos salários e pensões; recusa impor regras e limites à voracidade dos monopólios; inviabiliza medidas, como as avançadas pelo PCP, para reforçar a rede social de apoio aos desempregados, designadamente o alargamento do subsídio de desemprego.Para o PCP a questão essencial é que o governo PS prossegue uma política que visa salvaguardar o património e atenuar os prejuízos financeiros dos banqueiros e dos grupos económicos, enquanto impõe novos sacrifícios aos trabalhadores e a outras camadas sociais não monopolistas, e não só não responde, de forma capaz, socialmente justa e pronta, aos problemas que os portugueses e a economia nacional enfrentam, como tornará ainda mais difícil, dolorosa e demorada a saída do país da recessão.
O Comité Central do PCP chama a atenção para a evolução da situação política onde, a par do prosseguimento da cooperação estratégica entre o governo e o Presidente da República, centrado na defesa da mesma política de classe ao serviço dos grupos económicos e financeiros, se regista o desenvolvimento de atritos e conflitualidades em torno de matérias que não põem em causa essa política.
O Comité central sublinha que, no quadro do agravamento da situação económica e social, e da ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e do povo português, se intensificam as orientações e práticas antidemocráticas, estimuladas pelo governo PS, que atentam contra as liberdades e os direitos democráticos, designadamente no plano dos direitos sindicais, da liberdade de manifestação e de propaganda.Na actual situação, com os desenvolvimentos recentes, ganhou novo impacto público o caso Freeport, colocando questões em diversos planos e implicando o rápido apuramento e apreciação da justiça.
O Comité Central do PCP chama a atenção para o facto de, independentemente dos seus ulteriores desenvolvimentos políticos, este processo estar a ser usado para a promoção de manobras de vitimização do primeiro-ministro que, num quadro de agravamento da crise, visam iludir as suas reais responsabilidades pela situação em que o País se encontra, e desviar as atenções dos problemas que atingem os trabalhadores e as populações