sábado, 29 de agosto de 2009

OS LIVROS DA ESCOLA


A duas semanas do recomeço do ano lectivo, as grandes superfícies comerciais lançam coloridas campanhas de «regresso às aulas», os bancos promovem as suas ofertas de créditos pessoais com juros bem acima dos 10%, e as famílias com filhos em idade escolar fazem as contas à vida para aguentar o embate do mês de Setembro.
O regresso às aulas para mais de um milhão e 400 mil crianças e jovens é um momento de alegria e de expectativa. Mas também é uma verdadeira dor de cabeça para quem é confrontado com listas de compras de material e manuais escolares, de roupa e calçado, com orçamentos bem acima do suportável. Num momento em que o desemprego atinge níveis inaceitáveis no nosso país, em que a precariedade e os lay-offs reduzem salários e esmagam direitos, em que o endividamento das famílias atinge os 120% do rendimento disponível, Setembro avizinha-se como um dos meses mais longos do ano.
O Governo do PS – tal como, antes dele, os governos do PSD-CDS – revela toda a sua insensibilidade social no que aos custos com a educação diz respeito. Os manuais escolares são a componente que mais pesa nesta despesa das famílias: 600 euros em média, sendo que este ano os livros sofreram mais um aumento de cerca de 4,5%.
O mais escandaloso é que este aumento é o resultado imediato de uma convenção assinada entre o Governo e as poderosas empresas editoras há dois anos, permitindo-lhes subir os preços acima do valor da inflação. O PCP denunciou oportunamente mais este serviço do Governo aos grupos económicos e o resultado está à vista – mais dificuldades e injustiças no acesso à educação.
Duas semanas depois do início do ano lectivo, o País vai eleger a nova Assembleia da República. É uma boa oportunidade para ler programas, ouvir discursos e propostas, somar 2 mais 2 e reflectir: qual é o Partido que tem no seu programa eleitoral, de entre o conjunto de medidas urgentes, uma que diz assim - «distribuição gratuita dos manuais escolares para todo o ensino obrigatório, já a partir do próximo ano lectivo»? É o PCP. E este é um dos muitíssimos motivos para votar na ruptura e na mudança, votando CDU.


Margarida Botelho (in Avante)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O DESCARAMENTO

As especulações acerca de uma eventual «aliança» entre o PS e o PCP na sequência do esperado mau resultado do partido de Sócrates nas eleições legislativas – que se destina porventura a colorir de esquerda a bandeira rosa da política de direita em vias de tropeção – roça o descaramento.
Já nem falamos do antigo arguido no processo da Casa Pia, Paulo Pedroso que, recebido na Assembleia com palmas dos seus correligionários, após ter ganho a sorte grande no segundo recurso para a Relação, vem agora, qual galinho da Índia, dar conselhos ao seu partido. «Se», diz ele, o eleitorado «votar à esquerda», então o PS, o PCP e o BE não poderão «ignorar» tal postura. E se não «votar à esquerda»? Pedroso que, em Almada elege o PCP e a CDU como inimigo principal, não tem estatura suficiente para estas propostas.
Mas o pior são as palavras de Ferro Rodrigues – também procedente do mesmo saco da antigos suspeitos no caso da Casa Pia. «Se o PS vencer as eleições sem maioria absoluta, deve desafiar o PCP e o BE. E no caso dessas negociações não conduzirem a nenhum resultado, deverá voltar-se para o PSD.»
Estas declarações são o maior atestado de oportunismo político que Ferro Rodrigues poderia passar a si próprio. É que ele não fala de políticas de esquerda, apenas se refere à pedinchice de apoios para que o PS – com o seu trem de tacharia – pudesse conservar-se no poder. Se a coisa não der – e Ferro Rodrigues deveria saber que não dá, por nossa parte – então o PS, partido ambidestro, virar-se-ia para o PSD, seu aliado natural em toda a história dos últimos trinta e três anos de política de direita.
É claro que não pomos as mãos no fogo no que toca às tentações do Bloco de Esquerda, tão guloso de um lugarzito e tão condescendente em variados aspectos da política de direita. Nem nos permitiríamos colocar-nos no lugar dos bloquistas, partido sem ideologia e sem projecto, que tem vindo a crescer ao colo da comunicação social comandada pela direita económica e política.
O descaramento de Ferro Rodrigues, porém, faz um favor a Sócrates. Primeiro, diz ele, vira-te para a esquerda. Depois dá a mão à direita e culpa os comunistas por essa preferência.
Por nossa parte, não jogamos esse jogo. Temos uma só palavra. E essa já a disse Jerónimo de Sousa ao apresentar o Programa do Partido: «Não contem com o PCP para subscrever uma política desta natureza.»

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NÃO SÃO TODOS IGUAIS


É conhecido o chavão popular em relação à política e aos políticos: «são todos iguais». Nada mais falso. Todo o processo das autárquicas no distrito de Braga aí está para demonstrar, mais uma vez, como efectivamente NÃO «são todos iguais».
Uns, o PPD/PSD, obedecem à «chefe». A «chefe» decidiu, muito «democraticamente», o critério de escolha para cabeça de lista: presidente de câmara em exercício igual a candidato. Não interessa se fez um bom ou um mau mandato. Não se averigua se há indícios de corrupção ou não. Não se procura saber a opinião das bases. A «chefe» decidiu, está decidido. O que interessa é manter o poder a todo o custo, assegurar os «tachos» e as clientelas políticas.
Outros, o PS, acenam descaradamente com empregos e sinecuras. Diz-nos a Wikipedia que «sinecura é um tipo de emprego ou função, quase sempre em cargo público, e que praticamente não requer responsabilidade, trabalho ou serviço activo. Historicamente, as sinecuras servem como instrumento de poder dos governantes, que as concedem em troca de favores políticos. Neste sentido, vincula-se também à prática do nepotismo.» Percebido? Pormenor esclarecedor. Os mesmos socialistas que fizeram aprovar a participação feminina na política por decreto (Lei da paridade), aqui no distrito (como no governo da República), dão um exemplo delicioso. Em 14 cabeças de lista às câmaras nem uma mulher!
Uns e outros, particularmente em concelhos onde a disputa é mais acesa, transmitem uma imagem nada abonatória aos eleitores que dizem querer esclarecer e cativar. O tão propalado «esclarecimento» dos cidadãos traduz-se em jogos baixos, maledicência, intriga, calúnia, crítica pela crítica, ataques pessoais (por vezes a raiar o indecoroso «vale tudo»).
Mas há quem seja diferente. E faça dessa diferença uma imagem de marca. Não para ganhar votos a todo o custo. A visão da política da CDU é a de uma actividade nobre que, no respeito pelo adversário, discute propostas e faz críticas construtivas. Que apresenta propostas alternativas àquilo que é criticado. Que exige a prestação regular de contas às populações que os elegeram. Que procura manter um diálogo vivo e constante com as populações e os interesses vivos dos municípios (associações, empresários, trabalhadores, populações).
Os candidatos da CDU cultivam uma maneira própria de estar na política que se caracteriza por não se servirem dos cargos para que são eleitos. Mas antes pelo contrário, usam esses cargos para defender intransigentemente o interesse das populações. É conhecida a regra de nenhum eleito da CDU ser beneficiado (ou prejudicado) no exercício das suas funções. A diferença de rendimentos auferidos é entregue para ser reinvestida, na maioria esmagadora dos casos, em acções ou obras em benefício das populações.
Não contem com a CDU para deixar tudo na mesma. Os candidatos da CDU têm de facto uma postura diferente. Apelam a que os eleitores votem neles, a que tenham a coragem de mudar o sentido de voto. E a que depois os julguem pelos seus actos. E os questionem sobre o cumprimento dos compromissos assumidos. Verão, dizem, que valeu a pena a mudança.
Um amigo nosso faz uma analogia interessante. Um agricultor quando a terra não produz num ano muda de terreno no ano seguinte. E se continua a não produzir muda de novo. E assim sucessivamente até encontrar um terreno fértil. O nosso agricultor nunca regressa ao terreno improdutivo. Porque não fazer o mesmo na hora de votar?