segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CRÓNICA DE DOIS BONS AMIGOS...


Jorge Messias - 11.01.10
As recentes homilias do Natal vieram demonstrar, uma vez mais, que em Portugal poder político e poder religioso são íntimos amigos. Embora sem grandes alardes de amizade, Governo e Igreja coordenam interesses e usam estratégias comuns e complementares. Ambos os parceiros trabalham incessantemente para consolidarem posições de topo. E ambos se calam quando os problemas nacionais são graves e às estratégias da santa aliança convém ignorá-los. Um exemplo nítido é o caso do problema do desemprego em Portugal.
Entre despedimentos e trabalho precário, as estimativas sindicais vão muito para além da fasquia dos 10%. A extinção de postos de trabalho cresce a um ritmo diário de 200 unidades. O ano de 2009 «fechou» com mais de 700 mil desempregados. As convenções colectivas são cada vez mais desprezadas pelos patrões. Está em formação acelerada um mercado subterrâneo de empregos instáveis, sem direitos nem garantias. As actividades produtivas decaem e geram mais e mais desemprego. É uma bola de neve que não se antevê onde parará de crescer.
Outro claro exemplo é o fosso entre ricos e pobres. Num país como Portugal, que ocupa um lugar cimeiro entre as nações com desequilíbrios de rendimentos mais chocantes, os grandes especuladores da bolsa ganharam, num só ano, mais de 5 mil milhões de euros de lucros líquidos!... Sem nada de útil produzirem; só com a compra e venda de interesses financeiros, com as privatizações e com os subsídios milionários que Sócrates oferece generosamente aos especuladores. Entretanto, a nível da acção governamental os ministros discutem até ao centavo os aumentos do salário mínimo, os subsídios de desemprego e os montantes das verbas orçamentais a investir no desenvolvimento real da economia. Reservam para a banca e para a Igreja os fundos europeus previstos para a modernização do aparelho económico. Para sobreviverem à crise, os bancos absorvem biliões. Quanto à Igreja, rezam as contas públicas, apenas no exercício de 2008, em nome do combate à pobreza, o Estado pagou às instituições católicas 90 milhões de euros... Essas mesmas instituições já recebiam dotações anuais, através do Orçamento do Estado, de mais de mil milhões de euros!
Irresistivelmente, os escândalos de «face oculta» irrompem como os cogumelos em todas as áreas que se ligam às grandes empresas públicas, ao universo das empresas financeiras, às instituições sociais ditas «não lucrativas», etc., etc. A Justiça é, ela em si, outra estrondosa vergonha nacional, arrastando processos que nunca têm fim e criando leis que só podem dar impunidade à corrupção. O caso «Casa Pia» é disto um exemplo esclarecedor e um verdadeiro compêndio da arte da obstrução.
E que dizer, já no plano da Igreja, dos 30 milhões de «euros» que o Patriarcado salvou a tempo da derrocada do BPP para depois os colocar nos off-shores das ilhas Caimão, lucrando 7 a 8 milhões com a operação para em seguida, investir o dinheiro na construção da Nova Basílica do Santuário de Fátima? A notícia deste caso veio em poucas linhas em alguns jornais e logo foi «abafada». Também nunca foram objecto de investigação os fluxos milionários que alimentam os jogos da «Santa Casa», os caudais monetários que escorrem para os Bancos Alimentares, os dinheiros das redes católicas de apoios sociais, os constantes subsídios que a Segurança Social transfere para as IPSS e... um mar de outras histórias pouco transparentes.
Fé, Esperança e Caridade
A tese da existência de um entendimento secreto entre a Igreja e o Governo (ou com o Poder capitalista, no seu todo) pode apoiar-se em factos conhecidos. Segundo comentadores bem informados há o projecto pouco divulgado de, a médio prazo, ser estabelecida uma rede público/privada, «não lucrativa», que seria financiada pelo Estado, pelas multinacionais e pela rede financeira do Vaticano, sendo administrada pelo «Sector Solidário da Igreja». O projecto deve ir já em adiantada fase de execução, se dermos crédito às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, homem forte do Patriarcado, datadas de há já alguns anos atrás: «Deve elaborar-se um plano integrado, a nível nacional e local, reunindo o Estado, as instituições públicas, as IPSS, as autarquias e outros organismos de índole social». Isto foi dito a propósito do combate à pobreza e ao desemprego.
Reunindo fugas de informação, declarações públicas de políticos e os relatos filtrados por outras fontes, conhecem-se agora outros detalhes das mudanças que Sócrates acarinha. Os números galopantes do desemprego vão ser «combatidos» através do Voluntariado católico e das IPSS da igreja. Da seguinte forma descentralizada: 1º o Sector Solidário cria milhares de postos de trabalho (50.000, segundo as Misericórdias); 2º os empregos assim criados serão exclusivamente no âmbito das instituições de solidariedade social, com enquadramento garantido pelo Voluntariado católico que se prepara para mobilizar para o efeito dezenas de milhar de «voluntários»; 3º neste sentido, a União das Misericórdias tem em estudo a criação de um Banco Nacional de Voluntários, com ramificações nas autarquias. O banco tem como principal finalidade a formação especializada dos voluntários católicos. Na fase inicial, esta estrutura envolverá cerca de 400 misericórdias e 19 hospitais.
Dado que se trata de um gigantesco projecto de interesse nacional com reflexos nas áreas vitais do Ensino, na Segurança Social e na Saúde, a iniciativa será financiada pelo Estado. Informações oficiosas referem que o financiamento, na parte que compete ao Estado e numa primeira fase, ascenderá a 424 milhões de euros. Esta massa financeira será gerida por um Conselho Nacional do Voluntariado constituído por representantes do Estado e por membros designados pela Acção Social da igreja e pelas Misericórdias.
Paralelamente à concretização deste projecto central, o Estado vai pagar às Misericórdias o apoio prestado aos doentes acamados nas suas casas. Por outro lado, as Misericórdias estão a desenvolver o negócio dos lares para idosos de famílias ricas – os hotéis-lares – com mensalidades de mais de 1.300 euros por mês.
A rematar esta panorâmica, resta darmos uma informação acerca das Fundações dependentes da Igreja e das Misericórdias, num total de várias centenas. As fundações católicas desempenham um papel importante na internacionalização das misericórdias. Desenvolvem uma insubstituível acção na globalização das intervenções sociais da igreja, através do estabelecimento de uma malha de redes locais, nacionais e internacionais. No plano financeiro integram «patrocinadores privados» (os chamados «tubarões», misericórdias, ordens religiosas, irmandades, ONGS e IPSS, etc. Têm um poder financeiro e político incalculável. Presentemente, sobretudo em Espanha, onde as fundações têm uma íntima ligação à poderosa banca, ao Vaticano e ao Opus Dei, verifica-se um grande incremento de fusões de instituições financeiras católicas (caixas de aforro ou bancos ligados à rede financeira da Santa Sé), nomeadamente o Sabadell, o Terrasa e Manleu, a UBS e o Banco Popular Espanhol cujo maior accionista individual é o banqueiro português Américo Amorim. Ora, não se pode distinguir entre banca portuguesa e espanhola. O capitalismo não tem pátrias. Onde o capital se fortalece, o dinheiro é que dita a História. Abrem-se as perspectivas de um só Estado confessional. Fé, Esperança e Caridade, as virtudes teologais cada vez mais presentes no tablado político e na engenharia dos mercados. Fé em Deus e no Capitalismo. Esperança na Vida Eterna e no fim da crise financeira. E Caridade que, «bem ordenada por nós é começada».
Padres, políticos capitalistas e banqueiros, mal podem agora conter a sua excitação. Aproxima-se Maio, o mês da visita papal a Portugal.
Vem aí o Papa. Vem aí o Patrão!...

12 comentários:

Anónimo disse...

"Paralelamente à concretização deste projecto central, o Estado vai pagar às Misericórdias o apoio prestado aos doentes acamados nas suas casas. Por outro lado, as Misericórdias estão a desenvolver o negócio dos lares para idosos de famílias ricas – os hotéis-lares – com mensalidades de mais de 1.300 euros por mês."
Enquadra-se aqui,apesar das mensalidades talvez não atingirem os valores referidos, a construção da clinica social joão paulo II que está a ser realizada pela SCMPL através de comparticipação financeira do estado e de subsidio atribuído pela CMPL.

Lamenta-se não haver,ou não quererem dar, dinheiro para o sector publíco da saúde!

Anónimo disse...

Que se tenham ideias diferentes é uma coisa. Que se minta aqui para se ganharem adeptos é outra.
A clínica de que o anónimo fala é um nado-morto porque nem existe e muito menos está em projecto.
Antes de mentir, informe-se.

Anónimo disse...

O nome da clinica pode até estar mal e o destino pode até ser os cuidados continuados e não o projecto de lar -vai dar tudo ao mesmo ,o cerne da questão é demonstrar que também por cá,bem como no resto do país, existem certas "promiscuidades" entre o estado as IPSS e a Igreja.

A ser mentira o que escrevi
então.
Que obra é aquela que estão a fazer na SCMPL?
Não foi com dinheiro da candidatura ao PARES e subsidio da CMPL que a SCMPL compôs o bolo necessário para a execução da obra ?
como vê ,apesar de ter ideias diferentes,ainda não tenho necessidade de mentir para ganhar adeptos-pois até nem sou do clube que gere estes processos e outros de igual cariz como o do empreiteiro a quem foi adjudicada a obra.

Para lembrar... disse...

O DOUTOR HUMBERTO CARNEIRO NUNCA PEDIU AO PRESIDENTE DO PSD PARA "CENSURAR" O BLOGUE AVANTEPOVOADELANHOSO.


AO INVÉS, A SUA ANTECESSORA NA PRESIDENCIA DA MESA DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL, FOI PEDIR SATISFAÇÕES AO SECRETÁRIO-GERAL DO PCP, JERÓNIMO DE SOUSA, SOBRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO BLOGUE AVANTEPOVOADELANHOSO.


DISSE-O NUMA ASSEMBLEIA MUNICIPAL, EM FINAL DE MANDATO.

MAIS UM PARA A COLEÇÃO disse...

http://www.domontedopilar.blogspot.com/

Anónimo disse...

E o que é que o doutor Humberto ou a drª Isabel ou mesmo até o secretário do PCP têm a haver com o blogue?
PALHAÇADA é o que é!

Anónimo disse...

E o palhaço és tu.

Anónimo disse...

Já parece um circo. Um palhaço a chamar palhaço ao da palhaçada...

Anónimo disse...

PALHACITOS

Anónimo disse...

palhações estes ressabiados rosas

Anónimo disse...

cambada de anormais

Anónimo disse...

E que mais????