segunda-feira, 27 de julho de 2009

ELES GOSTAM TANTO DO POVO!


Eles gostam tanto do pooovo!... sentem-se tão chegadinhos ao pooovo!... preocupam-se tanto com o bom pooovo!... São uma ternura, principalmente antes das eleições. Mesmo entre eles, nestas ocasiões, deixam de o apelidar de ralé, populacho, gentalha e outros acepipes, embora continuem a sentir vertigens só de pensar no… “Povo Unido”.
Normalmente quando se referem ao povo engasgam-se, espirram… não conseguem evitar a alergia nervosa que tais vocábulos lhes causam. Há, no entanto, que fazer um esforço, sorrir-lhes, apertar-lhes a mão, dar-lhes beijinhos e palmadinhas nas costas e, sempre com a máscara que sorri, deixar no ar uma qualquer benesse para depois do escrutínio. Pode valer o sacrifício!
São os amantes de vão de escada que se servem do povo, prometendo-lhe mesada e casa posta, mas uma vez servidos voltam para o doce lar. E quando, por acaso, se cruzam numa qualquer esquina da vida com o povo que juraram amar, viram-lhe a cara fingindo não o conhecer.
E porque têm um ar lavado assessorados que são por especialistas de imagem, terapeutas da fala, escribas de qualidade para lhes redigir os discursos, o produto aparenta boa qualidade exterior. Dão espectáculos em espaços amplos enquadrados pela bandeira nacional, a das estrelinhas amarelas, colocando em evidência a bandeirinha da agremiação a que pertencem. E os basbaques caem na esparrela.
Se o potencial cliente são os trabalhadores, para publicitarem a mercadoria que pretendem vender apresentam-se em mangas de camisa, como quem vai à feira.
Tomarão outra postura nas reuniões com os banqueiros de quem dependem e servem; impõe-se encadernação adequada ao cenário, fato à medida nos melhores alfaiates.
Postura de estado se a ocasião assim o exige, porte austero, bem aprumados e circunspectos, fazem-nos rir.
E o povoléu que até gosta de assistir a estas metamorfoses lá lhes vai ouvindo as parlapatices envoltas em música celestial onde, à porfia, cada um promete mais que o outro; e fazem-no com uma candura e encenação tão perfeitas que, mesmo apercebendo-se que é conversa para boi dormir, o povo lá tem ido pôr a cruzinha, jurando sempre ser a última vez.
É evidente que, nestas ocasiões, se faz crer que são profundas as preocupações com os mais carenciados, o termo é ambíguo: carenciado tanto pode ser alguém necessitado de pão como de afecto.
Mas o melhor é levar-lhes pão:
- “Ó Gertrudes! não te esqueças de entregar pessoalmente o cabaz com artigos de mercearia à mulher do Manel.”
- “Aprende a falar em período eleitoral: à esposa do senhor Manuel, está bem!”
- “Sim, aquele que foi despedido a semana passada; leva essa comidinha e que não se esqueçam de ir botar o papelinho com a cruzinha no lugar do costume.”
E eles lá têm ido carregando a cruz do costume e sofrendo a vidinha de sempre.
É a vida!

1 comentário:

Anónimo disse...

O Batista gosta tanto de povo que pelos vistos até pediu ao Presidente da Câmara de Vieira do Minho para trazer os seus apoiantes ao campo da feira no domingo passado. Mas é segredo atenção!!