segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Alguns aplaudiram a queda do muro, claro...-e depois?


Pode consultar aqui o que se traduz sobre o assunto:


Os Alemãs de Leste perderam muito em 1989Para muitos, na RDA, a queda do Muro de Berlim e a unificação significaram a perda de empregos, casas, segurança e igualdade.Bruni de la Motte
Em 9 de Novembro de 1989 quando o Muro de Berlim veio abaixo, percebi que em breve se seguiria a unificação germânica, o que ocorreu um ano depois. Isso significou o fim da República Democrática Alemã (RDA), o país onde nasci, cresci, nasceram os meus dois filhos, obtive o meu doutoramento e desenvolvi um trabalho realizador como leitora de literatura Inglesa na Universidade de Potsdam. Obviamente, a unificação trouxe com ela a liberdade de viajar pelo mundo e, para alguns, mais riqueza material, mas trouxe também colapso social, desemprego expandido, saneamentos, um materialismo estúpido e uma “sociedade de cotoveladas” bem como a demonização do país onde vivia e que ajudei a moldar. Apesar das vantagens, para muitos foi mais um desastre do que um evento para celebrar.
Apenas dois exemplos. A minha melhor amiga, uma professora de línguas estrangeiras, perdeu o seu emprego e foi saneada porque, na altura em que o muro caiu, acontecia que estava a ensinar numa universidade de direito do governo. Não era membro do partido, nem sequer era política. Depois de muitos esforços conseguiu encontrar um emprego a ajudar jovens excluídos das escolas, com um contracto temporário e um salário muito menor. O meu irmão, doutorado em ciências filosóficas, perdeu o seu emprego de investigação na academia e desde então só tem conseguido encontrar empregos temporários sem ligação com a sua especialidade e mal pagos.
Pouco se sabe aqui sobre o que aconteceu à economia da RDA quando o muro caiu. Uma vez a fronteira aberta o governo decidiu montar um fundo para garantir que as “empresa de propriedade pública” (a maioria dos negócios) seriam transferidas para os cidadãos que tinham criado a riqueza. Contudo, poucos meses antes da unificação, o então governo conservador acabado de tomar posse entregou o fundo a nomeados da Alemanha do Oeste, muitos representando interesses dos grandes negócios. A ideia de bens “de propriedade pública” serem transferidos para cidadãos foi deixada cair sem se falar mais disso. Em vez disso todos os bens foram privatizadas numa velocidade recorde. Mais de 85% foram comprados por alemães ocidentais e muitos foram fechados pouco depois. No campo 1.7 milhões de hectares de terras agrícolas e florestais foram vendidas e 80% dos trabalhadores agrícolas perderam os seus empregos.
Em Julho de 1990, quando ainda existia a RDA, foi introduzida uma apressada “união monetária” com o resultado de ter mergulhado a economia da RDA na bancarrota. Antes da unificação o marco da Alemanha do Oeste valia 4.50 marcos da RDA, a união monetária fixou a paridade com uma taxa de câmbio de 1:1. O resultado foi a subida de preços dos produtos de exportação da RDA em 450% da noite para o dia e deixaram de ser competitivos; o mercado da exportação (39% da economia) implodiu inevitavelmente.
Grandes números de trabalhadores comuns perderam os seus empregos, mas também os perderam milhares de trabalhadores de investigação e de académicos. Como resultado das purgas nos estabelecimentos académicos de investigação e científicos, num processo de saneamento político, mais de um milhão de pessoas com graus académicos perderam os seus empregos. Isso englobava cerca de 50% desse grupo, criando na Alemanha do Leste a mais alta percentagem de desemprego profissional no mundo; todos os reitores das universidades e todos os directores de empresas estatais, bem como 75,000 professores perderam os seus empregos e muitos foram inscritos em listas negras. Este processo ocorreu em contraste radical com o que ocorreu na Alemanha Ocidental depois da guerra, quando poucos ex-Nazis foram tratados deste modo.
Na RDA todas as pessoas tinham o direito legalmente garantido à posse e propriedade das casas onde viviam. Depois da unificação, foram feiras 2.2 milhões de reclamações por cidadãos não-RDA sobre as suas casas. Muitos perderam as casas onde viviam há décadas; um grande número preferiu suicidar-se a darem-nas. Ironicamente, reclamação para restituição do outro lado, por alemães do Leste sobre propriedades do Oeste, foram rejeitadas como “fora do tempo”.
Depois da morte da RDA, muitos acabaram por reconhecer e lamentar que as “conquistas sociais” genuínas de que gozaram tenham sido desmanteladas: igualdade social e de género, emprego total, inexistência de medos existenciais, bem como as rendas, transportes públicos, cultura e facilidades desportivas subsidiados. Infelizmente, o colapso da RDA e do “socialismo de Estado” ocorreu pouco antes do colapso do sistema de “mercado livre” no Ocidente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Na década de 1970 a República Democrática da Alemanha era a 9ª potência industrial na economia global. Cerca de 55% da população possuia frigorifico e máquina de lavar, 70% tinham televisão em casa. Os transportes colectivos tinham primazia: apenas 15% possuiam carro próprio. Num inquérito deste ano 20% dos alemães orientais afirmaram-se nostálgicos desse tempo (pressupondo-se o seu voto no Die Linke). Integrados na RFA 52% consideram-se cidadãos de segunda ordem. Apesar dos subsidios especiais do governo central, actualmente o indice de pobreza na parte oriental é de entre 13 a 15 por cento; enquanto na parte ocidental é de 6 a 8%. O PIB da Alemanha Oriental é cerca de 1 terço menor que o dos restantes alemães. Apenas 33% dos habitantes do Leste são frequentadores de igrejas, contra 80% no lado Oeste.
(a fonte é o Dep. Oficial Federal Alemão de Estatisticas, citado na revista “Histoire” Outubro 2009)

Anónimo disse...

É verdade que a maioria do povo que viveu sob a bandeira da ex-RDA,diz,hoje,claramente,que perdeu grande parte dos direitos de que beneficiava,nomeadamente ao nível do trabalho e de muitas regalias sociais que usufruia,fruto da mudança política que imediatamente foi implementada pelos intrusos do SPD,CDU e restantes partidos de direita.O mundo capitalista rejubilou com tamanho êxito e hoje,pelos relatos que nos são transmitidos,verifica-se que ouve "caça ás bruxas" aos que viveram e trabalharam naquela República Alemã.O seu rendimento é de 1/3 apenas do lado ocidental,o flagelo do desemprego é notório entre todos aqueles que nasceram lá e as dificuldades de arranjar emprego são verdadeiras e reais.Hoje preferem dar trabalho a polacos,russos,romenos,etc.,etc.,em detrimento dos oriundos da ex-RDA,o que prova que a Chanceler Merkel,natural de lá,discrimina e persegue o seu povo em nome de uma falsa liberdade e democracia que não existe.
Naturalmente que a queda do Muro mais tarde ou mais cedo aconteceria,porque com a queda da ex-URSS seria extremamente difícil manter,resistir e defender um modelo de socialismo que o imperialismo americano e a União Europeia não queriam e tudo iriam fazer para "varrer" da Europa países que não alinhavam pelo mesmo diapasão,como aconteceu com todos os que o perfilhavam.
Os mais oportunistas e sedentos de riqueza à pressa cedo se colaram às suas pretensões e hoje vê-se claramente milhares de capitalistas com belas casas,carros de top de gama,contas avultadas na Suiça e nos "off-shores",porque se apoderaram das riquezas do povo em seu proveito próprio e moldaram totalmente a economia dos seus países aos interesses do grande capital.
Portugal,passados 30 anos pós 25 de Abril,é um claro exemplo daquilo que foi feito nos ex-países do Leste Europeu,tudo que era lucrativo foi privatizado e passou para as mãos dos Espíritos Santos,Melos,Amorins,Belmiros de Azevedos e por aí fora,eles é que são os verdadeiros donos do país e do poder político.
Por essa razão é que os casos de corrupção alastram,o desemprego dispara,as condições de vida cada vez se degradam mais,a fome e a miséria aumentam,tudo fruto da destruição dos direitos laborais e sociais e da capitulação dos vários governos aos seus interesses de classe.Esta é que é a realidade desta Europa onde estamos inseridos que continua a guiar-se por políticas neoliberais,cedendo em tudo que é social e mandando para a desgraça e miséria milhões de trabalhadores e hipotecando cada vez mais o futuro dos seus povos.
É urgente mudar de paradigma,não só em Portugal como no resto da Europa.Está nas mãos dos povos europeus atingir essas metas e objectivos e para isso ser conseguido é necessário criar laços de unidade em torno de objectivos muito claros e precisos.A unidade faz a força,está na hora de todos darmos as mãos para atingirmos plataformas de entendimento que nos levem à vitória.